Evento já conta inclusive com lista de espera para as próximas edições, diz o ouvidor agrário
A 4ª edição do casamento comunitário promovido pela Ouvidoria Agrária do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) formalizou nesta sexta-feira, 28, o casamento de 44 casais de vários municípios da Região Metropolitana de Belém, além de Castanhal, uma iniciativa de êxito comprovado, segundo o ouvidor agrário, Desembargador Mairton Carneiro, pela extensa lista de espera de casais interessados em garantir os direitos civis assegurados pelo estado brasileiro às famílias legalmente constituídas, sobretudo o direito à terra.
Desde o início da manhã, o prédio da Ouvidoria Agrária do TJPA, na Conselheiro Furtado, entre as travessas 14 de Abril e Três de Maio, em São Brás, começou a receber noivas de todas as idades, com seus vestidos nas cores branca ou rosa, alguns acetinados, maquiagem discreta, tudo muito simples, mas com muita elegância.
Os noivos não deixaram por menos, a maioria de paletó, com ou sem gravata, mas com a seriedade de quem está ciente das responsabilidades agora assumidas perante a esposa e o estado. A cerimônia foi simples, de caráter civil, oficiada por Alfredo Augusto Rodrigues, juiz de paz do cartório Guedes de Oliveira, do 2º ofício, parceiro da iniciativa. “É algo diferente na nossa vida, você tá dando uma palavra amiga, um apoio, fazer algo diferente por alguém que você nem conhece”, comenta o juiz de paz sobre o sentimento de oficiar o casamento comunitário.
A cerimônia ocorreu no auditório da Ouvidoria, mas antes e depois teve ensaio fotográfico conduzido pela lente delicada da jornalista e fotógrafa Érika Miranda, sub-coordenadora de imprensa do TJPA, além de salgadinhos, refrigerantes e o tradicional bem-casado no final, devidamente acompanhado pelo documento assentado no cartório Civil do 2º Ofício Guedes de Oliveira, comprovando a união civil do casal.
Histórias - Kennedy Ferreira compartilha com a esposa uma história de muito tempo. Os dois são vizinhos e se conhecem de crianças, sempre foram amigos por causa dessa proximidade, aí começaram a namorar e depois de um ano e dois meses desse relacionamento resolveram se casar. “Nós já nos conhecemos há muito tempo por esse contato de vizinho, começamos a nos relacionar mais profundamente, a amizade virou algo a mais e cá estamos, graças a Deus”, resume Kennedy, acomodado num terno azul e com uma expressão entre alegre e preocupada.
Carla, esposa de Kennedy, se apresenta: “Eu tou muito feliz aqui”, sintetiza a moça morena, com um sorriso de quem conhece o marido já há algum tempo. “A minha família se dá bem com a família dele e aí minha mãe falou tem que casar!”, lembra, o risinho de troça no final da fala, diante de um Kennedy meio constrangido.
A funcionária pública Silvia Cibelli conheceu o marido em uma rede social digital. “Ele, muito bem humorado, me conquistou pelo sorriso e bom humor e nós já vamos fazer três anos juntos”, diz ela, ao comentar que após a decisão que tomaram de se casar também localizaram a Ouvidoria Agrária pela mesma rede social.
“A gente resolveu casar pelos nossos princípios religiosos e pra formalizar também a nossa família”, diz ela, ao manifestar gratidão pela oportunidade do casamento comunitário.
Roger Rosário, o marido de Silvia, expressou o seu sentimento após a cerimônia. “Tou feliz, ela é uma pessoa muito importante na minha vida, passei por uma situação muito difícil de saúde e logo depois conheci ela, só alegria, só felicidade; depois do que passei, sou um homem de muita sorte por ter encontrado ela e estar realizando essa vontade de casar”.
Antes do casamento comunitário desta sexta, Elvis Mesquita mantinha uma relação estável não formalizada de vinte anos com Cléia. Os dois não têm filhos em comum, mas Célia afirma o sentimento do casal em relação à filha dela e aos dois filhos dele, de relações anteriores: “Nós não temos filhos em comum, mas ele tem uma filha que é nossa e eu tenho dois filhos que também são nossos”.
Calendário - O ouvidor agrário do TJPA, Desembargador Mairton Carneiro, diz que o casamento comunitário já faz parte do calendário da Ouvidoria. “Não só aqui, mas nas demais regiões do Estado onde há varas agrárias e os juízes estão autorizados a fazer esses casamentos. O intuito é fixar o homem no campo para acabar com ocupações ilegais”, resume.
O projeto do casamento comunitário integra o programa da Ouvidoria chamado Revolução Agrária, sob a argumentação de que a regularização do estado civil dos casais que vivem nas regiões agrárias proporciona inclusão social e fortalece os laços familiares.
Além da emissão de documentos de identificação, o projeto garante cestas básicas aos casais participanfes. O casamento comunitário é realizado em parceria com o Cartório 2º Ofício Guedes Oliveira e apoio do Governo do Estado por meio da Fundação Pará Paz; da Associação dos Notários e Registradores do Estado do Pará (Anoreg), Assembleia Legislativa do Pará (Alepa); e dos deputados Nilton Neves e Walderlan Quaresma, além do Ministério Público do Pará.