Evento integra programação da XIV semana Justiça pela Paz em Casa
No canteiro de obras onde ocorre a reforma do colégio Orlando Bitar, em Belém, 35 trabalhadores da construção civil se reuniram nesta quarta-feira, 21, para aprender sobre violência doméstica e familiar contra a mulher. A palestra, ministrada pela juíza auxiliar da Coordenadoria Estadual de Mulheres em situação de Violência Doméstica (Cevid), Reijjane de Oliveira, fez parte da programação da XIV semana Justiça pela Paz em Casa e do projeto Mãos à Obra, resultado de um termo de cooperação entre o Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) com o sindicato da indústria da construção do estado do Pará (Sinduscom – PA). A palestra é uma ação que leva a prevenção e o combate à violência doméstica e familiar contra a mulher ao ambiente da construção civil, predominantemente ocupado por homens.
“Na violência contra a mulher, a maioria dos agressores são homens. Então, é preciso falar sobre violência com eles, levar essa reflexão a eles”, disse a juíza Reijjane de Oliveira, que explicou aos trabalhadores que a violência doméstica contra a mulher é causada pelo machismo, enraizado na sociedade e multiplicado culturalmente. Segundo a magistrada, desde a infância, o espaço da casa é destinado à mulher e o espaço da rua aos homens. Consequentemente, o tratamento desigual de homens e mulheres gera no imaginário social uma ideia de superioridade do homem mediante à mulher, que se reflete nos relacionamentos, nos quais o homem é dominante e a mulher submissa. Com isso, o homem percebe a figura feminina como sua propriedade, e por isso compreende como natural agredi-la, assim como dispor de seu corpo como quiser.
“É necessário desconstruir essa cultura machista, que mata as mulheres e faz com que os homens reprimam sua afetividade, os desumaniza e tira deles a capacidade de demonstrar emoções. O machismo é que leva os homens a serem agressivos, é a cultura machista que faz os homens violentarem as mulheres, matarem as mulheres”, avaliou a magistrada, que acrescentou que ao se defrontar com situações de violência doméstica e familiar contra a mulher, a comunidade deve intervir e denunciar as agressões, ações que podem salvar a vida de uma mulher agredida.
A pedagoga da Cevid, Riane Freitas, mencionou os cinco tipos de violência designados na lei Maria da Penha: verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial. Ela abordou também o ciclo da violência vivido por mulheres agredidas. Na primeira fase do ciclo, o agressor fica tenso e irritado por coisas insignificantes, tem acessos de raiva, humilha a vítima, ameaça e destrói objetos. A vítima então tenta acalmar o agressor, evita qualquer conduta que possa provocá-lo, esconde o fato das demais pessoas e nega que a violência ocorra. Na segunda fase toda a tensão da primeira fase se converte em explosões violentas por parte do agressor, e a vítima sente medo e paralisia diante da ação ou pode buscar ajuda. Na terceira fase, o agressor tem um comportamento carinhoso com a vítima por conta do arrependimento de ter causado violência, enquanto a mulher se sente confusa e pressionada a manter seu relacionamento, num período relativamente calmo. Depois dessa fase, o ciclo reinicia e as agressões também.
Isaías de Souza, de 50 anos, trabalha desde 2005 na construção civil. Na palestra ele fez perguntas e disse que é difícil a mudança de comportamentos aprendidos desde cedo pelo homem, mas que é necessário diálogo entre homens e mulheres. “Aprendi que, assim como o homem, a mulher tem os mesmos direitos, que não se deve agredir a mulher e a mulher precisa de mais carinho, não se deve agredir verbalmente, porque agressão verbal só traz consequências, tanto para o homem quanto para a mulher. Se não tiver diálogo, não vai haver paz e temos que trazer isso de dentro de casa para a rua”, disse.